sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Richard Baxter (1615-1691): Cristo Derramou Seu Sangue em Vão?

Objeção: Sua posição faz com que Cristo tenha derramado Seu sangue em vão. Faz com que Cristo tenha derramado Seu sangue até por aqueles que Ele sabia que iriam perecer para sempre.

Resposta: Você não pode provar que isso foi em vão e que Deus não poderia ter outro objetivo nisso além da salvação de cada pessoa por quem Cristo morreu, quando, na verdade, a Escritura nos diz claramente que Cristo morreu por todos, mesmo pelos que perecem, e que comprou aqueles que o negaram. 


 Tome cuidado para não blasfemar contra Deus dizendo-lhe: 

“Se Cristo morreu por todos que perecem, Ele morreu em vão”. 

Eu não acuso você, mas ex natura rei avisá-lo. Eu não me atreveria a falar de Deus assim.


Deus fez o homem em Adão capaz de salvação, quanto a própria perfeição e quanto ao objetivo de suas faculdades e natureza, e o colocou sob um pacto condicional. Você também dirá que foi em vão que Deus fez Adão nessa capacidade, que Ele fez a primeira Promessa de Vida e que fez a Árvore da Vida, porque Adão (e todos nós nele) pecou? E dirá que isso diminuiu a glória de Deus? Não! Deus não fez os demônios em vão em um estado de bem-aventurança, mesmo sabendo que eles iriam abandonar esse estado e perecer. É perigoso reprovar os insondáveis conselhos e obras de Deus.

Você mesmo reconhece que isso não foi em vão, pois você diz que a justiça de Deus é glorificada nos incrédulos e que este é Seu objetivo. E não é justiça punir os homens por rejeitar um Cristo que morreu por eles e a graça que foi adquirida e oferecida a eles?

E se você adicionar todos os outros benefícios e objetivos, verá que não foi em vão. Deus demonstrou, e assim glorificou, o Seu amor e Sua misericórdia para com a humanidade perdida na grandeza do dom (de Cristo, do perdão e da glória,) que o impenitente recusa. E a misericórdia é glorificada não obstante a recusa. Deus concede o Pacto anteriormente mencionado, ou a condicional concessão de perdão e vida ao mundo. Ele os tolera, e concede a eles tempo de arrependimento, e exerce paciência para com eles para esse fim:

“E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; O qual recompensará cada um segundo as suas obras” Rom 2: 3-6

“O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; ...Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. Atos 17

“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu”. Rm 1:19-21

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. ...Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más”. João 3:16, 18, 19. [1]

Ele governa o mundo sob termos de graça. Ele dá a todos os homens abundância de misericórdias e os meios de recuperação e vida. Ele mantém o mundo em ordem por este meio, e faz o ímpio útil para a salvação dos crentes. Em resumo, ele não perderá nada devido a qualquer pecado do homem contra a natureza ou contra a graça. Onde, então, é vã a morte de Cristo, se em um grau comum ela foi para todos?

Richard Baxter, Catholick Theologie (London, 1675), II: 66-67

Fonte: http://theologicalmeditations.blogspot.com/2007/04/shed-his-blood-in-vain.html

Nota do blog:

[1]As citações dos versículos mencionados por Richard Baxter foram acrescentadas, e, consequentemente, a ressaltação em negrito não é original do texto.

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