sexta-feira, 25 de novembro de 2011

João Calvino (1509-1564): Sobre Muitos e Todos - Citações Diversas

1. Quando “os muitos” não são todos


1) Na última palestra nós explicamos como Cristo confirmou o pacto com muitos durante a última semana; porque Ele reuniu os filhos de Deus de seu estado de dispersão quando a devastação da Igreja era tão horrível e miserável. 

Embora o Evangelho não tenha sido imediatamente promulgado entre as nações estrangeiras, ainda assim Cristo corretamente diz ter confirmado a aliança com muitos, assim as nações foram chamados diretamente à esperança da salvação. (Mateus 10:5).

Embora ele tenha proibido os discípulos a pregar o Evangelho, quer a gentios ou samaritanos, ainda assim lhes ensinou que muitas ovelhas foram dispersas no exterior, e que o tempo no qual Deus faria um aprisco estava próximo. (João 10:16).

Isso foi cumprido depois de Sua ressurreição. Durante sua vida Ele começou a antecipar ligeiramente o chamado dos gentios, e assim eu interpreto essas palavras do Profeta:

“Ele confirmará o pacto com muitos”. 

Pois eu tomo a palavra , "muitos" aqui, rebim, comparativamente, para os fiéis gentios unidos com os judeus. É bem sabido que o pacto de Deus foi depositado por um tipo de direito hereditário com os israelitas até que o mesmo favor foi estendido aos gentios.


Portanto, Cristo não disse apenas ter renovado o pacto de Deus com uma só nação, mas amplamente com o mundo em geral. Confesso, aliás, o uso da palavra “muitos” como “todos”, como no quinto capítulo da Epístola aos Romanos, e em outros lugares, (Romanos 5:19), mas aqui parece haver um contraste entre a antiga Igreja, incluídas dentro de limites muito estreitos, e a nova Igreja, que se estende por todo o mundo. 

Nós sabemos quantos, anteriormente estrangeiros, foram chamados das regiões distantes da terra pelo evangelho, e assim se uniram em aliança com os judeus para estarem todos na mesma comunhão e contados igualmente como filhos de Deus. John Calvin, Daniel, Lect 52. [br]


2. Quando “os muitos” são todos


Sermões


1) Então, é como nosso Senhor Jesus carregou os pecados e as iniquidades de muitos. Mas, na verdade, essa palavra "muitos" é frequentemente tão boa quanto a equivalente "todos". E, de fato, nosso Senhor Jesus foi oferecido por todo o mundo. Porque não se fala de três ou quatro quando se diz:

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que não poupou o seu Filho únigenito" 

Mas, ainda assim é preciso notar que o evangelista acrescenta nesta passagem: "para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas obtenha a vida eterna." Nosso Senhor Jesus sofreu por todos, e não há nem grande nem pequeno que não esteja sem desculpas hoje, porque nós podemos obter salvação por meio Dele. Os incrédulos que se afastam Dele e que privam a si mesmos Dele, por sua malícia, são hoje duplamente culpados. Porque como eles desculparão sua ingratidão em não receber a bênção que poderiam partilhar pela fé? John Calvin, Sermons on Isaiah’s Prophecy of the Death and Passion of Christ, 52:12, p., 140-1.


Comentários


2) Tenho seguido a interpretação comum, que "Ele levou o pecado de muitos", embora possamos considerar sem impropriedade a palavra hebraica (rabbim) denotando "grande e nobre". E, assim, o contraste seria mais completo, que Cristo, ao ser “contado entre os transgressores", tornou-se uma garantia para cada um dos mais excelentes da terra, e sofreu no lugar daqueles que ocupam os postos mais altos no mundo.

Deixo isso para o julgamento de meus leitores. Porém, eu aprovo a leitura comum, que ele suportou sozinho o castigo de muitos, porque Nele foi colocada a culpa do mundo todo. É evidente a partir de outras passagens, e especialmente do quinto capítulo da Epístola aos Romanos, que "muitos" frequentemente significa "todos". John Calvin, Isaiah 53:12.

3) "E dar a sua vida em resgate por muitos". Cristo mencionou a sua morte, como já dissemos, a fim de retirar dos seus discípulos a imaginação tola de um reino terreno. Mas essa é uma afirmação justa e apropriada do seu poder e dos resultados, quando declara que sua vida é o preço da nossa redenção, de onde resulta, que obtemos uma imerecida reconciliação com Deus, cujo preço é encontrado em nenhum outro lugar do que na morte de Cristo.

Portanto, esta única palavra subverte toda a conversa desocupada dos papistas sobre suas abomináveis satisfações. Mais uma vez, enquanto Cristo nos adquiriu por Sua morte para ser sua propriedade, essa submissão, da qual fala, é tão longe de diminuir sua glória infinita, que aumenta consideravelmente o seu esplendor. A palavra "muitos" (pollon) não é colocada definitivamente para um número fixo, mas para um grande número, pois Ele se contrasta com todos os outros. E neste sentido é usado em Romanos 5:15, onde Paulo não fala de qualquer parte dos homens, mas abrange toda a raça humana. John Calvin, Matthew 20:28.

4) "Que é derramado por muitos" Pela palavra "muitos" Ele não quer dizer apenas uma parte do mundo, mas toda a raça humana, pois contrasta muitos com um, como se tivesse dito que não seria o Redentor de só um homem, mas morreria a fim de livrar muitos da condenação da maldição. No entanto, deve ser observado, ao mesmo tempo, que pelas palavras “por vós” , como relatado por Lucas, Cristo se dirige diretamente aos discípulos, e exorta cada fiél a aplicar a sua própria vantagem o derramamento do sangue. Portanto, quando nos aproximamos do mesa santa, não nos lembremos somente em geral que o mundo foi redimido pelo sangue de Cristo, mas cada um considere por si mesmo que seus pecados foram expiados.John Calvin, Mark 14:24.


5) "Suportar", ou "tirar os pecados", é livrar de culpa por sua satisfação aqueles que pecaram. Ele diz queos pecados de muitos, isto é, de todos, como em Romanos 5:15. É ainda certo que nem todos recebem o benefício da morte de Cristo, mas isso acontece, porque sua incredulidade os impede. Ao mesmo tempo, essa questão não é para ser discutido aqui, pois o apóstolo não está falando de poucos ou de muitos para os quais a morte de Cristo pode estar disponível, mas ele simplesmente quer dizer que Cristo morreu pelos outros e não para si mesmo; e, portanto, opõe muitos a um. John Calvin, Hebrews 9:28.

Fonte: http://calvinandcalvinism.com/?p=230
  

APÊNDICE: Citações Já Publicadas em Português 


1. Quando “os muitos” não são todos


1)“Na última preleção explicamos como Cristo confirmou o pacto com muitos durante a última semana; pois ele congregou os filhos de Deus de seu estado de dispersão, quando a devastação da Igreja assumiu um caráter extremamente terrível e miserável. Embora o evangelho não fosse instantaneamente promulgado entre as nações estrangeiras, todavia somos corretamente informados de que Cristo confirmou o pacto com muitos, visto que as nações foram diretamente chamadas à esperança da salvação. (Mt 10.5)

Embora ele proibisse os discípulos de pregarem então o evangelho aos gentios ou aos samaritanos, contudo os instruiu dizendo que muitas ovelhas viviam dispersas pelo mundo fora, e que estava próximo o dia em que Deus construiria um só aprisco (Jo 10:16). Isso se cumpriu após sua ressurreição. Durante sua vida terrena, ele começou a antecipar levemente a vocação dos gentios, e assim interpreto estas palavras do profeta: ele confirmará o pacto com muitos. Pois tomo a palavra “muitos”, aqui, rebim, comparativamente em referência aos gentios fiéis unidos aos judeus. É muito notório que o pacto divino esteve depositado por um tipo de direito hereditário com os israelitas até que o mesmo favor se estendesse também aos gentios. Portanto diz-se que Cristo renovou o pacto de Deus não só com uma nação, mas em termos gerais com o mundo como um todo.

Aliás, admito o uso da palavra “muitos” como sendo para todos, como no quinto capítulo da Epístola aos Romanos e em outras partes (v.19), mas ali parece haver um contraste entre a Igreja antiga, incrustada dentro de estreitas fronteiras, e a Igreja nova, a qual se estende ao mundo inteiro. Sabemos que muitos, outrora estrangeiros, têm sido chamados das regiões longínquas da terra por meio do evangelho, e assim reunidos aos judeus por meio de aliança, ao ponto de todos desfrutarem da mesma comunhão e todos reconhecidos como igualmente filhos de Deus”. Calvino, João. Daniel Volume 2. Edições Paracletos. Editora Fiel. Exposição 52, pg 268-269.

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