quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tony Byrne: Sobre Jonathan Edwards e a Expiação Universal

Todd Burus:

Eu estava pensando sobre o comentário do Dr Allen, de que Edwards teria rejeitado a Expiação Limitada (ou o particularismo estrito). Ele citou isso da "Of the Freedom of the Will" em favor de tal afirmação:

“Dessas coisas inevitavelmente se seguirá, porém, que Cristo, em certo sentido pode ser dito ter morrido por todos, e redimido todos os visíveis cristãos, sim, o mundo todo, pela Sua morte, mas ainda assim deve haver algo particular no desígnio de Sua morte, com relação àqueles que Ele realmente pretendia que fossem salvos por ela”.


Parece-me que ele está ressaltando o "em certo sentido". No entanto, o fato é que Edwards diz em seguida que "deve haver algo particular no designio”, o que parece mover-se para A Expiação Limitada. Além disso, continuando nessa mesma seção do livro, Edwards diz:

“Como se verifica pelo que foi mostrado até aqui, Deus tem a real salvação ou redenção de um certo número em Seu próprio desígnio absoluto, e somente de um certo número. Portanto, tal desígnio só pode vir a acontecer em algo que Deus faz, visando a salvação dos homens. Deus segue um peculiar desígnio de salvação dos eleitos ao entregar Cristo para morrer, e segue tal desígnio com relação a nenhum outro, mais estritamente falando; pois é impossível, que Deus seguisse algum outro desígnio além daquele que Ele tem. Ele certamente não, na maior exatidão e estritamente falando, segue um desígnio que não tem. E, de fato, uma particularidade e limitação da redenção se seguirá infalivelmente da doutrina da presciência de Deus, como daquela do decreto. Por isso é tão impossível, estritamente falando, que Deus siga um desígnio ou tenha por objetivo uma coisa, que Ele, ao mesmo tempo, sabe mais perfeitamente que não será cumprido, uma vez que Ele se esforçaria por aquilo que está além de Seu decreto”. (ênfase minha)

Talvez eu não esteja percebendo alguma nuance nesta passagem ou nas definições de Allen/Johnson, mas aqui realmente me parece que Edwards está afirmando o particularismo estrito. O que você acha?

Tony Byrne:

Sim, Edwards está qualificando quando diz "em certo sentido". Mas apesar de dizer que "deve haver algo particular no designio”, ele usa linguagem redentiva incompatível com o modelo de Owen, de forma que Cristo tem "redimido todos os visiveis cristãos, sim, o mundo todo, pela Sua morte..." Esta é a parte que as pessoas deixam de notar.

O dr. Allen e eu percebemos elementos da particularidade calvinista em Edwards e todos devem reconhecer isso, mas note onde Edwards vê a particularidade na declaração acima. É no "designio de Sua morte". Todo calvinista deve afirmar que Cristo tem um motivo/desíginio especial em sua vinda que pertence somente aos eleitos. Por exemplo, embora Cristo tenha vindo por toda a humanidade e por ela expresso Seu amor, Ele veio por e amou especialmente os eleitos. Embora Cristo tenha vindo e expresso a vontade de salvar toda a humanidade, ele fez o mesmo especialmente pelos eleitos. Embora Cristo tenha sido gracioso a todos que encontrou, Ele foi especialmente gracioso com os eleitos. 


Os que são calvinistas em sua teologia sempre sempre apresentam uma particularidade na doutrina do amor de Deus, da vontade de Deus e da graça de Deus. Mas, observe que também existem aspectos universais, tais como o amor de Deus por toda a humanidade, Sua vontade para salvação de todos os homens, e Sua graciosidade a toda a humanidade. Observe a seguinte declaração de Edwards. Depois de descrever a ira de Deus trabalhando na miséria dos condenados na Miscellany # 232, Jonathan Edwards diz:

"E tudo isso será agravado pela lembrança, de que Deus uma vez nos amou de modo a dar seu Filho para nos trazer à felicidade de Seu amor, e tentou de todas as maneiras nos persuadir a aceitar Seu favor, o qual foi obstinadamente recusado". Jonathan Edwards, "MISERY OF THE DAMNED", 1726, p. 3. Works of Jonathan Edwards Online, eds. Harry S. Stout, Kenneth P. Minkema, Caleb J.D. Maskell, 2005-.

Nós vemos Edwards afirmando que Deus uma vez amou aqueles que estão agora no inferno, que Ele deu o seu Filho para trazê-los para a felicidade do Seu amor, e que Ele "tentou de todas as maneiras” persuadi-los a aceitar Seu favor", o qual foi "obstinadamente recusado". Da mesma forma, na primeira citação acima, ele está vendo um aspecto universal da morte de Cristo, tal que "pode ser dito ter morrido por todos ". Ele não está se referindo a uma morte que traz uma graça comum benéfica a todos, mas a uma morte que tem "redimido todos os visiveis cristãos, sim, o mundo todo, pela Sua morte”. Essa é a linguagem redentiva que os particularistas estritos não usam. Eles especificamente evitam dizer que alguém, além dos eleitos, foi redimido na morte de Cristo.

Observe como Edwards também explicita o desígnio particular. [Da forma como ele coloca, esse desígnio] não envolve uma imputação limitada de pecado em Cristo, de forma que Ele só teria redimido os eleitos na Sua morte (redenção realizada), mas a limitação da redenção é vista naqueles que são realmente "salvos por meio dela" (redenção aplicada). É por isso que Edwards diz: "Deus tem a real salvação ou redenção de um certo número em Seu próprio desígnio absoluto, e somente de um certo número ..." Pela "real salvação" ele está falando sobre a redenção aplicada. Apenas um "certo número", ou seja, os eleitos, se beneficiam eternamente de Sua morte em sua "real salvação", que ocorre quando a estes é concedida fé pelo Espírito através da Palavra pregada. Todo calvinista deve dizer que "Deus segue um peculiar designio de salvação dos eleitos ao dar entregar Cristo para morrer", mas eles não precisam fazê-lo com a exclusão de um desígnio geral na morte de Cristo, de forma que Ele sofreu pelos pecados do o mundo todo pela ordenação de Deus

Edwards vem a dizer que

“E, de fato, uma particularidade e limitação da redenção se seguirá infalivelmente da doutrina da presciência de Deus, como daquela do decreto. Por isso é tão impossível, estritamente falando, que Deus siga um desígnio ou tenha por objetivo uma coisa, que Ele, ao mesmo tempo, sabe mais perfeitamente que não será cumprido, uma vez que Ele se esforçaria por aquilo que está além de Seu decreto”

Seu ponto é que Cristo agiu consistentemente com o "decreto" eterno ou o propósito do Pai de salvar somente os eleitos. Somente a "real salvação" deles deve se seguir, dada a presciência de Deus. Há uma limitação na intenção especial de Cristo e na aplicação de Sua morte aos eleitos crentes (redenção aplicada), mas não há nenhuma limitação na redenção realizada. David Brainerd tem um modelo similar de redenção, como é visto em suas observações sobre João 1:29:

“Dia do Senhor, 05 de outubro. Eu ainda estava muito fraco. Na parte da manhã, estive consideravelmente receoso de que não seria capaz de realizar o trabalho do dia e eu tinha muito a fazer, tanto em público quanto em privado. Discursei antes da administração do sacramento sobre João 1:29 "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Onde eu considerei:

I. No que diz respeito a Cristo Ele é chamado o Cordeiro de Deus, e observei que Ele é assim chamado (1) pela pureza e inocência de Sua natureza; (2) pela Sua mansidão e paciência no sofrimento; (3) por ser aquela expiação que foi apontada no sacrifício de cordeiros, e, em particular, pelo cordeiro pascal.

II. Como e em que sentido Ele "tira o pecado do mundo". Não porque todo o mundo realmente será redimido do pecado por Ele, mas porque (1) Ele fez e sofreu suficientemente para responder pelos pecados do mundo, e assim redimir toda a humanidade; (2) Ele realmente tirou os pecados do mundo eleito”. [Jonathan Edwards, ‘The Life of David Brainerd” in Works, Banner of Truth, vol, 2, pp., 374.]

Observe:

1) Cristo tira o pecado do mundo.
2) Não em um sentido que todo o mundo será salvo de seus pecados.
3) Ao invés, Cristo “tira o pecado do mundo” no sentido que “Ele fez e sofreu suficientemente para responder pelos pecados do mundo”
4) Por "mundo" Brainerd claramente quer dizer "toda a humanidade", da qual nem todos serão salvos de seus pecados.
5) Somente o “mundo eleito", ou seja, os eleitos crentes que realmente têm seus pecados perdoados ou tirados.

Brainerd também está distinguindo entre redenção realizada e redenção aplicada. Redenção realizada é ilimitada, de modo que ele pode dizer que Cristo "sofreu suficientemente para responder pelos pecados do mundo, e assim redemir toda a humanidade". No entanto, apenas "o mundo eleito" realmente tem seus pecados tirados, de modo a ser “redimido do pecado por Ele", ou seja, libertado de sua escravidão a ele.

Eu não vejo nossos críticos lidando com essa parte da citação de Edwards, onde ele diz "redimido todos os visiveis cristãos, sim, o mundo todo”. Tal linguagem não pode significar somente os eleitos. Então, ele cria na expiação limitada? Bem, isso depende do que você quer dizer. Aqui está o que R L Dabney pensa sobre o termo expiação:

“A palavra (at-one-ment) [nota do tradutor: atonement é expiação em inglês] é usada apenas uma vez no Novo Testamento (Romanos 5:11), e lá ela significa expressamente e exatamente reconciliação. Isso é provado assim: a mesma palavra grega no verso seguinte, carregando o mesmo significado, é traduzida por reconciliação. Agora, as pessoas continuamente misturam duas idéias quando falam de expiação: Uma é aquela da expiação pela culpa providenciada no sacrifício de Cristo. A outra é a individual reconciliação de um crente com seu Deus, fundamentada no sacrifício feito por Cristo de uma vez por todas, mas realmente efetivada somente quando o pecador crê e por meio da fé. A última idéia é o real significado de expiação, e em seu próprio sentido, expiação (“atonement”, at-one-ment), reconciliação, deve ser individual, particular, e limitada para esse pecador que agora crê. Tem havido tantas expiações como há crentes no céu e na terra, cada uma de forma individual”. R. L. Dabney, The Five Points of Calvinism (Harrisonburg: Sprinkle Publications, 1992), p. 60.

Se você estiver usando o termo "expiação"como Dabney fez acima, então sim, Edwards acreditava em uma "expiação" limitada, já que somente os eleitos crentes completam a reconciliação. Se você estiver usando o termo "expiação" para se referir a satisfação de Cristo em si, como é comum na literatura teológica moderna, então não. Edwards não viu uma limitação na morte de Cristo em si, de forma que Ele teria levado sobre Si somente a culpa dos eleitos. Existe uma limitação no propósito de Cristo para com os eleitos e no dom da salvação que eles recebem por meio da fé, mas não há nenhuma limitação na imputação de pecado para Cristo.

Para ler mais sobre Jonathan Edwards e a Expiação Universal clique aqui

Fonte: Essa é uma resposta dada por Tony Byrne nos comentários no seguinte blog: http://peterlumpkins.typepad.com/peter_lumpkins/2008/12/sbc-calvinism-three-events-that-widened-the-divide-a-rejoinder-to-tom-ascol-by-david-allen.html.

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