sexta-feira, 3 de setembro de 2010

George Whitefield (1714-1770): Nosso Amor e o Amor de Deus

"Nós sabemos (diz São João) que nós passamos da morte para vida, porque amamos nossos irmãos." "E por isso (diz Cristo) todos os homens saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros." O amor é o cumprimento do evangelho, bem como da lei, porque “Deus é amor e quem permanece no amor, permanece em Deus”.

Mas por esse amor não devemos entender uma suavidade e ternura de natureza simples, ou um amor fundado em motivos mundanos (porque isso um homem natural pode ter), mas um amor de nossos irmãos, procedente do amor para com Deus: amar todos os homens em geral, devido à sua relação com Deus; e amar os bons homens, em especial, pela graça que nós vemos neles, e porque eles amam a nosso Senhor Jesus com sinceridade.


Esta é a caridade cristã, e é aquele novo mandamento que Cristo deu aos seus discípulos. Novo, não no seu objeto, mas no motivo e no exemplo sobre o qual é fundamentado, precisamente Jesus Cristo. Este é o amor pelo qual os cristãos primitivos eram tão reconhecidos que se tornou um provérbio: “Vejam como esses cristãos amam uns aos outros”. E sem esse amor, embora nós dessemos todos os nossos bens para o sustento dos pobres, e o nosso corpo para ser queimado, nada disso nos aproveitaria.

Além disso, esse amor não se limita a um grupo particular de homens, mas é imparcial e universal: um amor que envolve a imagem de Deus onde quer que ela seja contemplada, e que se deleita em nada mais do que ver a vinda do Reino de Cristo.

Este é o amor com que Jesus Cristo amou a humanidade: Ele amou todos, até mesmo o pior dos homens, como se torna visivel pelo seu choro pelo obstinadamente perverso; mas onde quer que Ele visse, ao menos, o lampejo da semelhança divina, aquela alma Ele amou em particular. Assim, lemos que, quando ouviu o rapaz dizer: "Todas essas coisas tenho observado desde a minha juventude", até ali Ele o amou. E quando  viu qualquer nobre exemplo de fé, mesmo sendo em um Centurião e siro-fenício, estrangeiro para a comunidade de Israel, como Ele disse que se maravilhou, se alegrou, em falar sobre isso e recomendar isso? Assim, cada discípulo espiritual de Jesus Cristo cordialmente abraça a todos os que adoram a Deus em espírito e em verdade, no entanto, podem diferir quanto aos anexos da religião, e em coisas não essencialmente necessárias para a salvação.

Confesso, aliás, que o coração de um homem natural não é assim alargado de uma só vez, e uma pessoa pode realmente ter recebido o Espírito Santo, (como Pedro, sem dúvida, tinha quando ele não estava disposto a ir até Cornélio), embora não tenha chegado a isso.  Entretanto, quando uma pessoa está verdadeiramente em Cristo, toda a estreiteza de espírito nele diminui diariamente, a parede divisória de intolerância e zelo partido é quebrada mais e mais, e quanto mais perto ele chega do Céu, mais o seu coração é ampliado com aquele amor, que não faz nenhuma distinção entre qualquer povo, nação ou língua, mas nós todos, com um só coração e uma só voz, cantamos louvores àquele que está assentado no trono para sempre. Mas apresso-me à

Quinta marca nas Escrituras: amar nosso inimigos

"Eu vos digo (diz Jesus Cristo) amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que maliciosamente vos maltratam e perseguem". E esse dever de amar os seus inimigos é tão necessário, que sem ele, a nossa justiça não excederá a dos escribas e dos fariseus, ou mesmo dos publicanos e dos pecadores. "Porque se você fizer o bem somente a eles, que são bons para você, o que você faz mais do que outros? " O que você faz que é extraordinário? "Não fazem os publicanos o mesmo?" E esses preceitos de nosso Senhor são confirmados pelo seu próprio exemplo, quando chorou sobre a cidade sanguinária, quando ele próprio sofreu por ser levado como uma ovelha para o matadouro, quando deu aquela resposta suave para o traidor Judas (“Judas, trais o Filho de homem com um beijo "), e mais especialmente, quando nas agonias e angústias da morte, orou por seus assassinos: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem."

Este é um dever difícil para o homem natural, mas aquele que é feito participante da promessa do Espírito, vai encontrá-lo praticável e fácil. Porque se nascemos de novo de Deus, devemos ser como Ele e, consequentemente, nos deleitar em ser perfeitos nesse dever de fazer o bem aos nossos piores inimigos e isso da mesma maneira que Ele (embora não no mesmo grau em que Ele é perfeito), pois Ele envia sua chuva sobre maus e bons, faz com que seu sol brilhe sobre justos e injustos, e mais especialmente demonstra seu amor para conosco, pois quando éramos seus inimigos, Ele enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para que Ele se tornasse maldição por nós. "


George Whitefield, "Sermon XLII: Marks of Having Received the Holy Ghost," in The Works of the Reverend George Whitefield (London, 1772), 6:168-169.


Fonte:http://theologicalmeditations.blogspot.com/2008/10/george-whitefield-on-our-love-and-gods.html

Tradutor:  Emerson Campos Pinheiro.