segunda-feira, 20 de setembro de 2010

David Ponter: Bullinger e a Doutrina da Expiação Universal

Aparentemente algumas pessoas tem feito uma réplica ao meu texto “A Reformada Doutrina da Expiação Universal”. ...Uma pessoa que lê as declarações do próprio Bullinger, e ainda assim se recusa a admitir publicamente que Bullinger verdadeiramente ensinou a expiação universal, está simplesmente sendo desonesta, tanto para si mesma quanto para seu público leitor. Assim, a seguir, vou citar uma fonte secundária muito confiável e, em seguida, apresentarei uma amostra de 3 citações de Bullinger intercaladas com alguns comentários de refutação.



Fonte Secundária:


Claras declarações de universalismo hipotético não-especulativo podem ser encontradas (como Davenant reconheceu) em Heinrich Bullinger’s Decades and commentary on the Apocalypse, em Wolfgang Musculus’ Loci communes, em Ursinus’ catechetical lectures, e em Zanchi’s Tractatus de praedestinatione sanctorum, entre outros lugares . Além disso, os Cânones de Dort, ao afirmarem a distinção padrão da suficiência da morte de Cristo por todos e sua eficiência para os eleitos, realmente deteve a canonização ou da primitiva forma de universalismo hipotético ou da suposição de que a suficiência de Cristo só serve para deixar o não-eleitos sem desculpas."

"Apesar de Moore poder citar declarações da conferência York que Dort "ou abertamente ou dissimuladamente negou a universalidade da redenção do homem" (156), é certo que vários dos signatários dos Cânones foram universalistas hipotéticos - não só a delegação inglesa (Carleton, Davenant , Ward, Goad, e Hall), mas também a [sic] alguns dos delegados de Bremen e Nassau (Martinus, Crocius e Alsted) - e que Carleton e outros delegados continuaram a afirmar os pontos doutrinais de Dort, enquanto se distanciavam da disciplina da Igreja da Confissão Belga, e que no decurso do debate do século XVII até mesmo os Amyraldianos foram capazes de afirmar que seus ensinamentos não eram contrários aos Cânones. Em outras palavras, a não-especulativa, não-amyraldiana forma de universalismo hipotético não era nova nem décadas depois de Dort nem um “amolecimento”da tradição. As posições de Davenant, Ussher, Preston seguiam de uma residente trajetória longamente reconhecida como ortodoxa entre os Reformados.”

“English Hypothetical Universalism: John Preston and the Softening of Reformed Theology,” by Jonathan D. Moore. Reviewed by Richard A Muller, Calvin Theological Journal, 43 (2008), 149-150.


Um estudioso moderno é capaz de reconhecer a verdade sobre o assunto aqui


Fontes Primárias


Nós também estamos em uma posição melhor para avaliar e refutar o comentário de Turretinfan sobre Bullinger.

Nosso oponente apresentou este comentário de Bullinger:


"Mas a Escritura coloca para nós Cristo como o único mediador de redenção e assim também da intercessão. O ofício de um mediador tocante a redenção e a intercessão é um só e o mesmo. Um mediador coloca-se no meio entre os que estão em desavença ou desacordo, e ele é unido a cada um em disposição e natureza. Um intercessor coloca-se no meio entre os que estão em conflito e discórdia, e a menos que ele seja indiferente para ambos os lados, ele não pode ser um intercessor."

Em primeiro lugar, observamos que a fonte nem é citada.

Em segundo lugar, em relação a isso, diretamente, o nosso oponente diz: "Bullinger relaciona corretamente os papéis da redenção e da intercessão."

Nosso oponente argumenta que Bullinger relaciona os “papéis” de redenção e intercessão. Se Bullinger acabou de dizer isso, nós nos encontramos perguntando: "E o problema é..? Supõem-se que isso refuta o quê exatamente?” Mas um problema técnico é que Bullinger não diz "os papéis da redenção"-o que quer que isso signifique exatamente - mas “o mediador da redenção e da intercessão”, e que o ofício da redenção e da intercessão, são um só e o mesmo. Sobre isso concordamos plenamente. Então, o que nosso adversário está dizendo? Ele está dizendo que para Bullinger o escopo da redenção e o escopo da mediação são o mesmo? Se o nosso detrator pretende fazer esse ponto, então nada no contexto deste comentário sustenta isso. Se ele quer simplesmente dizer que para Bullinger a única pessoa que redime é a mesma pessoa que intercede, então nós corcordamos. Porque nós vemos que Bullinger, no contexto, é bastante claro:

"Muitos concedem que Cristo nos é dado como um intercessor junto a Deus, mas isso porque eles o unem com muitos outros. Eles certamente não enviam todos somente a Ele, nem tampouco pregam somente um único mediador. Eles imaginam que Cristo é o mediador da redenção, sim, o único mediador, porém que não é o único mediador da intercessão, mas que unido com Ele estão muitos mais. Mas a Escritura nos apresenta Cristo como único mediador da redenção e assim também da intercessão. O ofício de um mediador tocante a redenção e a intercessão é um só e o mesmo. Um mediador coloca-se no meio entre os que estão em desavença ou desacordo, e ele é unido a cada um em disposição e natureza. Um intercessor coloca-se no meio entre os que estão em conflito e discórdia, e a menos que ele seja indiferente para ambos os lados, ele não pode ser um intercessor."

"Por ambas as partes a reconciliação (ou expiação) é necessária e buscada. Deve, portanto, ser determinada a causa de discórdia, que sendo tirada, a contenda e a discórdia também cessam. O motivo da discórdia é o pecado. É dever, portanto, de um mediador ou de um intercessor acabar completamente com o pecado, para que essa discordância não possa mais continuar. Por isso, não há reparação ou satisfação feita com palavras ou com orações, mas com sangue e morte. Hebreus 9. Pelo que necessariamente concluimos que só Cristo é o mediador ou intercessor junto ao Pai. Principalmente porque Cristo pode se colocar no meio entre Deus e os homens, porque só Ele é participante de ambas as naturezas. Os santos participam, mas só de uma, porque são homens, mas Cristo é Deus e homem. Além disso, Ele que é um intercessor deve ser também um reconciliador, ou alguém que faça expiação. Por fim, o alvo do que faz intercessão é a reconciliação. Mas Cristo é o único reconciliador dos homens, portanto, também o único intercessor. Porque cabe a um intercessor dissolver a causa da contenda e da discórdia, ou seja, abolir e tirar o pecado. Mas apenas Cristo, e nenhuma criatura, tira o pecado. Resta, portanto, que Cristo é o único intercessor".  Bullinger, Decades, 4th Decade, Sermon 5, vol 2: pp., 213-214.

Assim, como podemos ver, não há nada aqui que de alguma maneira conteste o que temos dito a respeito da doutrina de Bullinger sobre a extensão da expiação.

Colocando isso de lado, o que mais pode ser dito? Bom...isso por exemplo:

"João, sem exceção, diz: filhos 'eu escrevi isso para que vocês não pequem, mas se algum homem pecar, nós temos nosso advogado, diante do Pai, aquele justo, o Senhor Jesus Cristo', etc. Aqui ninguém pode trazer qualquer objeção. Cristo é aqui chamado e designado para ser advogado ou mediador por todos os pecadores, e isso, em todo o tempo, que oferece a si mesmo. Mateus 11, diz: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." A mesma coisa Paulo ensina sobre o único Salvador, Jesus Cristo. 1 Timóteo 1  'É uma palavra fiel e digna de ser recebida por todos os homens que Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores'."[Henry Bullinger], An Holsome Antidotus or counter-poyson agaynst the pestylent heresye and secte of the Anabaptistes newly translated out of the Latin into Englysh by John Veron, Senonoys, 1570, 182-183.


Há muitas declarações como essa em Bullinger.

Em segundo lugar,

Nosso oponente faz referência a Bullinger dizendo:


"O outro erro deles é o de dizer, que Cristo ofereceu seu corpo, somente pelo pecado original, e não por nós e todos os nossos pecados, e por isso devemos fazer satisfação pelos nossos próprios pecados. Mas o apóstolo Paulo neste lugar condena ambas as opiniões. E o santo evangelista João concordando com Paulo, diz: "O sangue do Filho de Deus nos purifica de todo pecado. Porque Ele é a propiciação pelos nossos pecados, não somente pelos nossos, mas pelos pecados de todo o mundo". Portanto, o mérito da redenção de Cristo, se estende a todos os fiéis de ambos os Testamentos". Decades, 4th Decade, Sermon 1, vol 2, pp., 42-43

E mais uma vez, gostaríamos de saber, o que isso refuta? De alguma forma, como Bullinger não aplica este versículo à expiação universal, nesta única citação, então ele nunca acreditou na expiação universal? Agora, o nosso adversário pode não saber isso, mas a palavra “estender” é frequentemente tomada como "aplicar" no século 15. O mérito de Cristo é aplicado não só aos santos no Novo Testamento, mas também para os santos do Antigo Testamento. Porém, mesmo colocando isso de lado, ...qual é o problema? Bullinger diz aqui que o “mérito” não se estende aos não-eleitos em algum sentido? Não. Bullinger está simplesmente dizendo, no seu contexto original, que a eficácia da satisfação de Cristo alcança o Antigo Testamento, tanto quanto alcança posteriormente todos aqueles no Novo Testamento.


Agora duas espécies de citações são apresentadas para a revisão:

1)"Em resumo, quando dizemos e confessamos que Jesus Cristo é o sacerdote ou bispo do povo fiel, nós dizemos que Cristo é o nosso escolhido e nomeado professor e mestre, para governar e ensinar a sua igreja universal, para interceder por nós, e para defender todas as nossas súplicas fielmente diante do Pai no céu, que é o único patrono, mediador e defensor dos fiéis com Deus, o qual pelo sacrifício de Seu corpo é a perpétua e a única satisfação, absolvição e justificação de todos os pecadores em todo o mundo ... Ele nunca sacrificou no templo nos altares sagrados ou incenso ou holocaustos. Ele nunca usou vestes sacerdotais, que eram figurativas; e das quais eu falei quando expus as leis cerimoniais [Heb. 8]. Portanto, quando Ele sacrificou pela satisfação dos pecados do mundo todo, sofreu fora da porta, e ofereceu a Si mesmo como um vivo e mais santo sacrifício, de acordo com as sombras ou tipos, profecias e figuras anteriormente demonstradas na Lei de Moisés:... E esse único sacrifício é sempre eficaz para fazer satisfação por todos os pecados de todos os homens em todo o mundo ... Os cristãos sabem que o sacrifício de Cristo, oferecido uma vez, é sempre eficaz para fazer satisfação pelos pecados de todos os homens em todo o mundo, e de todos os homens de todos os séculos, mas esses homens muitas vezes com gritos dizem que é heresia não confessar que Cristo é oferecido diariamente no sacrificio dos sacerdotes, consagrados para esse propósito." Decades, 4th Decade, Sermon 7, vol 2, pp., 285-286, 287, and 296.

2)"Também eles declaram desse modo, que Ele redimiu, a saber, homens de todas as tribos, etc. No que ele repete copiando Daniel no capítulo 7 e significa uma universalidade, porque o Senhor morreu por todos, mas nem todos são feitos participantes dessa redenção, e isso por sua própria culpa. Porque o Senhor não exclui nenhum homem, mas apenas aquele que por sua própria incredulidade e crença errônea exclui a si mesmo." Henry Bullinger, A Hvndred Sermons Vpon the Apocalipse of Iesu Christ. (London: Printed by Iohn Daye, Dwellyng ouer Aldersgate, 1573), 79-80.

Para a primeira citação, onde Bullinger fala de um sacrifício “eficaz”, o contexto está em oposição aos sacrifícios inúteis de touros e bodes. Para a segunda citação o contexto é o próprio comentário de Davenant feito diretamente em sua Dissertation on the Death of Christ (pp., 337-338) e, portanto, a referência a que Muller indiretamente se refere. Não há nenhuma razão para se julgar que Bullinger esta equivocado no segundo "todos". Agora, se estes dois comentários de Bullinger não convencem, então nada convence.

Então, para fechar isto, toda a informação relevante pode ser encontrada aqui. Parece que nosso oponente tem lido algo se não todo o arquivo. Se ele fez isso, e ainda quer fingir para si mesmo e para seus leitores que Bullinger sustentava a expiação limitada, então, novamente, tudo o que se pode dizer é que o nosso adversário está sendo desonesto, não só para si, mas também para seus leitores. Nós poderiamos assim dizer que preto é branco e branco é preto.[nota do tradutor: seguindo o raciocinio do oponente].

E assim, a menos que haja algum tipo de tratamento competente do nosso adversário sobre este ponto, não há nenhum benefício em lidar com seu tratamento dos reformadores. Qualquer coisa diferente seria um completo desperdício de tempo.


http://www.theologyonline.org/blog/?p=541
Tradutor:  Emerson Campos Pinheiro.