sexta-feira, 5 de março de 2010

R. L. Dabney (1820-1898): Redenção Particular

Cristo morreu somente pelos eleitos, ou por todos os homens?

A resposta tem sido muito prejudicada por termos ambíguos, tais como “expiação particular”, “expiação limitada”, ou “expiação geral”, “expiação ilimitada”, “expiação indefinida”. O que eles querem dizer por expiação(nota do tradutor: no original “atonement”)?

A palavra (at-one-ment) é usada apenas uma vez no Novo Testamento (Romanos 5:11), e lá significa expressamente e exatamente reconciliação. Isso é provado assim: a mesma palavra grega no verso seguinte, carregando o mesmo significado, é traduzida por reconciliação.

Agora, as pessoas continuamente misturam duas idéias quando falam de expiação: Uma é aquela da expiação pela culpa providenciada no sacrifício de Cristo. A outra é a individual reconciliação de um crente com seu Deus, fundamentada no sacrifício feito por Cristo de uma vez por todas, mas realmente efetivada somente quando o pecador crê e por meio da fé.



A última idéia é o real significado de expiação, e em seu próprio sentido, expiação (“atonement”, at-one-ment), reconciliação, deve ser individual, particular, e limitada para esse pecador que agora crê. Tem havido tantas expiações como há crentes no céu e na terra, cada uma de forma individual.

Mas sacrifício, expiação, é único – um ato singular, glorioso e indivisível do divino redentor, infinito e inextinguível em mérito. Tivesse havido apenas um pecador, Seth, eleito de Deus, esse completo sacrifício divino teria sido necessário para expiar sua culpa. Tivesse cada pecador da raça de Adão sido eleito, esse mesmo sacrifício seria suficiente para todos. Nós devemos absolutamente nos livrar do engano que a expiação é um monte de presentes para ser divididos e distribuídos, um pouco para cada recebedor, como um pouco de dinheiro sendo tirado de uma bolsa para uma multidão de pedintes.

Se a multidão de pedintes fosse grande, chegaria-se ao fundo da bolsa antes que cada pedinte obtivesse sua esmola, e mais dinheiro deveria ser providenciado. Eu repito que essa noção é completamente falsa ao se aplicar à expiação de Cristo, porque ela é um ato divino. Ela é indivisível, inextinguível e suficiente em si mesma para cobrir a culpa de todos os pecados que viriam a ser cometidos na Terra. Esse é o abençoado sentido no qual o apóstolo João diz (1 João 2:2): “Cristo é a propiciação (a mesma palavra que expiação) para os pecados de todo o mundo”

Mas a questão seria colocada, “o sacrifício de Cristo é limitado pelo propósito e desígnio da Trindade”? A melhor resposta para os presbiterianos darem é esta: no propósito e desígnio da divindade, o sacrifício de Cristo foi intentado efetivo apenas com relação aos resultados, e todos os resultados seriam achados decorrentes na história da redenção. Eu digo que essa é exatamente a resposta que nós presbiterianos devemos dar, porque nós cremos na universal predestinação de Deus como certa e eficaz de forma que todo resultado final de seu plano deve ser a exata interpretação do que seu plano era em principio. E essa declaração, o arminiano também é obrigado a adotar, a não ser que ele queira caracterizar Deus com ignorância, fraqueza, ou inconstância. Pesquise e veja.

Bem, então, percebe-se que os resultados do sacrifício de Cristo não são um, mas muitos e vários:

1.Ele faz uma exposição da benevolência e compaixão geral de Deus por todos os pecadores para a glória de sua infinita graça. Porque, abençoado seja seu nome, ele diz “Eu não tenho prazer na morte daquele que morre” (Ezequiel 18:32)

2. O sacrifício de Cristo tem certamente adquirido para toda raça humana um misericordioso adiamento da condenação devida aos nossos pecados, incluindo todas as bençãos temporais de nossa vida terrena, toda repressão do evangelho sobre a depravação humana, e a sincera oferta do céu para todos. Porque, se não fosse por Cristo, a condenação dos homens teria seguido instantaneamente depois de seus pecados, assim como aconteceu com os anjos caídos.

3. O sacrifício de Cristo, voluntariamente rejeitado pelos homens, coloca a obstinação, impiedade e culpa da natureza deles em uma luz mais forte, para a glória da justiça final de Deus.

4. O sacrifício de Cristo tem adquirido e provido, para um efetivo chamado dos eleitos, toda a graça que assegura a fé, o arrependimento, a justificação, a perseverança e a glorificação deles.

Agora, uma vez que o sacrifício realmente resulta nessas diferentes conseqüências, elas são todas incluídas no desígnio de Deus. Essa visão satisfaz todos aqueles textos citados contra nós.
Mas nós não podemos admitir que Cristo morreu tão completamente e no mesmo sentido por Judas como ele morreu morreu por Saulo de Tarso.

Aqui nós somos obrigados a afirmar que, enquanto a expiação é infinita, a redenção é particular. O indiscutível fundamento no qual nós provamos que a redenção é particular é este: da doutrina da eleição incondicional, e do pacto da graça. (O argumento é um, porque o pacto da graça é apenas um aspecto da eleição). As Escrituras nos dizem que aqueles que seriam salvos em Cristo são um número definido de eleitos e dado a Ele desde a eternidade para serem redimidos por sua mediação. Como pode alguma coisa ser mais clara que isto: que houve um propósito na expiação de Deus para eles que não foi a mesma para o resto da humanidade? (Veja a Escritura com relação a imutabilidade dos propósitos de Deus – Isaías 46:10 e 2 Tim 2:19)

Se Deus tivesse a intenção de salvar uma alma em Cristo (e Ele tem uma definida intenção em salvar ou não salvar as almas), aquela alma certamente seria salva (João 10:27-28; 6:37-40). Por isso, todo aquele que Deus intentou salvar em Cristo será salvo. Mas algumas almas nunca serão salvas pela expiação de Cristo. A força desse argumento pode dificilmente ser superestimada. Aqui é visto que um limite para a intenção da expiação deve ser afirmada para salvaguardar o poder, o propósito e a sabedoria de Deus. O mesmo fato é provado por isto: que a intercessão de Cristo é limitada (João 17:9, 20).

Nós sabemos que a intercessão de Cristo é sempre predominante (Rom. 8:34; João 11:42). Se ele intercedesse por todos, todos seriam salvos. Mas nem todos são salvos. Por isso, há alguns por quem ele não suplicou o mérito de sua expiação. Mas ele é o “mesmo ontem, hoje e sempre” (Hebreus 13:8). Por isso, houve alguns por quem, quando ele fez a expiação, ele não tinha a intenção de favorecer. Alguns pecadores (i.e os eleitos) recebem de Deus o dom da convicção, regeneração e fé, persuadindo e possibilitando a eles a abraçar a Cristo, e assim fazer sua expiação efetiva para si mesmos, enquanto outros pecadores não, mas essas graças são uma parte do que foi comprado na redenção, e outorgadas por meio de Cristo. Por isso essa redenção foi intentada ser efetiva para alguns e para outros não (veja abaixo).

A experiencia prova o mesmo. Uma grande parte da raça humana já estava no inferno antes da expiação ser feita. Outra grande parte nunca ouviu dela. Mas a “fé vem pelo ouvir” (Rom 10:17), e a fé é a condição dessa aplicação. Uma vez que sua condição é determinada intencionalmente pela providência de Deus, não pode ser sua intenção que a expiação beneficie a eles igualmente como aqueles que ouviram e creram. Essa visão é destrutiva, particularmente no esquema arminiano.

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.” (João 15:13). Mas o maior inclui o menor, de onde resulta que se Deus, o Pai, e Cristo acalentassem por uma dada alma o amor definido da eleição o qual foi forte suficiente para gerar o sacrifício do Calvário, não é crível que seu amor a eles recusasse os presentes menos custosos do chamado eficaz e da graça sustentadora. Esse é o próprio argumento de Romanos 5:10 e 8:31-39. Essa inferência não seria conclusiva se fosse elaborada meramente da benevolência da natural de Deus, algumas vezes chamada na Escritura “seu amor”, mas no caso aqui definido, o amor eletivo é convincente.

Por isso, é absolutamente impossível para nós mantermos o dogma que Cristo, em desígnio, morreu igualmente para todos. Nós somos compelidos a defender que ele morreu por Pedro e Paulo em algum sentido no qual ele não o fez por Judas. Nenhuma mente consistente pode sustentar o credo calvinista como a total depravação do homem para com Deus, sua inabilidade de vontade, os decretos de Deus, os atributos imutáveis da soberania e onipotência de Deus sobre os agentes livres, sua onisciência e sabedoria, e não chega a essa conclusão. Tanto é que todo adversário inteligente admite, ao disputar a redenção particular, nessa medida pelo menos, que eles sempre atacam essas verdades conectadas como estando ligadas uma nas outras.

Em uma palavra, a obra de Cristo pelos eleitos não meramente coloca eles em um estado salvável, mas adquire para eles uma completa e garantida salvação. Para aqueles que conhecem a depravação e a escravidão de seus próprios corações, qualquer redenção menor que essa não traria qualquer conforto.

Nota do tradutor:   Dabney é um autor calvinista que comprovadamente cria que Cristo morreu por todos os homens sem exceção (pretendo fazer uma postagem demonstrando isso de forma ainda mais clara) e ainda assim ensinava os cinco pontos do calvinismo.   É muito interessante ver que ele não limitava a extensão da morte de Cristo, mas sim a intenção distinta pela qual Ele morreu pelos eleitos.  Cristo morreu por Paulo e por Judas, mas não da mesma maneira, isto é, não com o mesmo propósito.

Fonte: R. L. Dabney, The Five Points of Calvinism disponivel em http://www.spurgeon.org/~phil/dabney/5points.htm#l
Tradutor: Emerson Campos Pinheiro. Ao utilizar esse texto devem ser citados a fonte e o tradutor.