terça-feira, 2 de março de 2010

Dominic Bnonn Tennant: O Fundamento do Chamado Universal do Evangelho

Expiação Universal - Parte 2 de 6


É uma verdade universalmente reconhecida que os pecadores debaixo da ira de Deus estão em necessidade do evangelho. Veja, por exemplo, Romanos 1:16. Essa é a mesma razão porque é chamado de “gospel” – uma “god spel”, velho inglês para “boas novas”, como tradução para o grego euaggelion.

Essas são “as boas novas sobre Jesus”, a saber, paz com Deus, uma vez que “todo que nele crê recebe perdão de pecados por meio de seu nome” se eles se “arrependerem e voltarem para Deus” (Atos 8:35, 10:36, 26:20).

Como a ESV Study Bible coloca, em seu comentário de 2 Corintios 5:18-20 “Ser reconciliado com Deus é um sumário da mensagem do evangelho que Paulo proclamava aos incrédulos; é um chamado para receber a reconciliação que Deus tem forjado (Romanos 5:11)”. Em resumo, o evangelho é a promessa de reconciliação dos pecadores por meio da fé em Cristo.

Isso é certamente prima facie boas novas para cada pecador a quem o evangelho é proclamado. E nós sabemos que ele é para ser proclamado para todos os pecadores. O evangelho é, de fato, proclamado como um convite para todos – apesar de ser ele um convite que coloca o convidado debaixo da obrigação de responder favoravelmente, como ilustrado na parábola da festa das bodas. É assim um chamado universal, apesar de poucos serem escolhidos para crer nele (Mateus 22:14).


Agora, particularistas diriam que essa universalidade na proclamação não reflete o escopo da expiação. Uma vez que Cristo não morreu por todos, a promessa de salvação por meio de sua morte não pode ser realmente estendida a todos. Ao invés, é estendida somente aos eleitos, mas é proclamada indiscriminadamente para todas as pessoas porque não sabemos quem são os eleitos. Alguém poderia acrescentar que outra razão para o evangelho ser proclamado indiscriminadamente é a condenação adicional dos pecadores que o rejeitam.


A Sinceridade de Deus Impugnada


No entanto, se esse é o caso, então é difícil ver como um pecador, ouvindo o evangelho, pode – sem qualquer desconfiança – considerá-lo como genuinamente boas novas. De fato, é difícil ver como um pecador pode confiar no evangelho de qualquer maneira. Se eu fosse tal pecador, o chamado para confiar na promessa me pareceria implicar que a promessa é realmente feita para mim. Assim um chamado universal para tomar posse da promessa parece implicar uma universal aplicabilidade dessa promessa (mas não necessariamente uma universal aplicação).

Mas os particularistas dizem que a promessa de salvação só é realmente estendida aos eleitos. Como, então, Deus pode chamar todos indiscriminadamente para confiar nela? No que eles realmente estão sendo chamados para confiar? Se Cristo morreu exclusivamente pelos eleitos, então não há sentido no qual a promessa de salvação possa ser estendida aos não-eleitos, quer como um convite, ou puramente como um comando. Considere o quê exatamente os pecadores estão sendo chamados para fazer. Não é para confiar na obra de Cristo na cruz, e na promessa de que ele assim pode ser reconciliado com Deus? Não é, de fato, para assim ser reconciliado com Deus? Certamente que é. A promessa se refere a expiação – e assim se alguém (qualquer um ) é chamado para confiar nela, ele precisa saber que há algo em que se confiar. Se a expiação foi somente pelos eleitos, e a promessa é assim co-extensiva somente para os eleitos, então um pecador teria primeiro que saber que ele é eleito antes que  pudesse confiar na promessa. Não seria bom dizer a ele “Confie na promessa e você saberá que você é um eleito”, pois o que está em questão é se há algo em que ele possa confiar. Em que se está pedindo a ele para colocar sua fé? Na obra de Cristo? Por quem? Pelos eleitos? Mas ele não sabe se é um eleito. Assim como pode ser pedido a ele que confie na promessa?

Deus simplesmente não pode prometer salvar alguém por quem Cristo não morreu. Tal promessa seria vazia, insincera; uma mentira – e é impossível para Deus mentir (Hebreus 6:18). Portanto, se os particularistas estão corretos, ele não pode dizer a todas as pessoas sem exceção “Se reconcilie com Deus” - porque Deus não tem feito uma provisão para todas as pessoas serem reconciliadas com Ele. Ele não pode dizer ao pecador réprobo, como a ESV Study Bible teria dito “Receba a reconciliação que Deus tem forjado” - porque não existe tal reconciliação para aquele pecador. Ele não pode dizer a um homem não-eleito, “Creia e você será salvo” - isto é, terminantemente, uma mentira. Ele pode somente dizer essas coisas aos eleitos. A inabilidade moral dos pecadores réprobos em responder ao chamado é irrelevante, porque na realidade, a expiação, a qual os salvaria não existe. Não há nada para eles confiar. Dessa maneira, o chamado universal do evangelho é totalmente comprometido e demonstra ser sem base sobre a visão particularista. De fato, ele é tão comprometido que os particularistas, para evitar deturpar a Deus, são forçados para dentro do mais extremo hiper-calvinismo, e são aleijados em seu evangelismo.


A Justiça de Deus Impugnada


Além do mais, não é somente o chamado do evangelho que é comprometido, mas também é a justiça de Deus em condenar aqueles que recusam o evangelho. Assim como os não-eleitos não podem ser solicitados a tomar posse da expiação a qual não foi realmente feita por eles, assim também eles, igualmente, não podem ser punidos por falhar em fazer isso. Como ele pode acumular condenação sobre si mesmo por rejeitar o evangelho, como em João 3:18, quando o evangelho nunca foi para ele? Certamente, que sentido há em falar dele “rejeitando” algo que nunca foi sinceramente oferecido para ele? Ele não poderia realmente se virar, e sem qualquer impertinência, apontar que Deus é manifestadamente desonesto em chamar todos a crer em uma promessa que não é feita para todos, e manifestadamente injusto em punir aqueles que não crêem quando não há nada para se crer? Mas João diz, ao contrário, que “quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.” (1 João 5:10-12). Eric Svendsen expande ainda mais esse ponto ao trazer passagens de suporte que descrevem a condenação adicional daqueles que professa a fé, mas depois a abandonam. Na parte 1 de seu diálogo com James White “Quando nossa união com a morte de Cristo ocorre?” ele pergunta:   "porque eles são condenados se o evangelho não foi destinado para eles? Mas Pedro diz que eles negaram o Mestre que os comprou (2 Pedro 2:1)"

Dadas essas duas considerações – a impugnação da sinceridade e da justiça de Deus por remover o fundamento para o chamado universal – os particularistas devem conceder que a expiação não foi limitada em escopo. Além disso, há um outro problema que segue diretamente daquele que eu tenho esboçado acima, o qual eu tratarei adiante como o argumento final dessa série, mas antes irei tratar de negar as objeções de minha visão.

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